poema 24
Publicado sábado, maio 23, 2009
Não queiras vê-lo,
Nem perguntes o que eu fiz
Quando há pouco fui olhar-me
Depois de falar contigo
E em que chorei de saudade!
Quebrei-o porque não quero
Aceitar a realidade!
Não digas, — não vás supor
Que foi uma cobardia,
Ou nervos, ou pessimismo,
Ou uma simples fantasia!...
Não, amor: o nosso drama
— O meu!, tem essa tragédia
Da consciência que eu ponho
Sem querer, sem a chamar,
Para ouvir o que eu digo
E para ver o que eu faço...
Sou o rastro de um sorriso,
Um gesto do teu cansaço...
Sou a música perdida
De um lamento que foi alma
Na letra de uma cantiga
Cantada por um mendigo
Numa estrada solitária
Onde não passa ninguém!
Quebrei-o e fiz muito bem.
Quebrei-o como quem parte
A vida que idealizou:
— Não posso ver-me qual fui,
Não quero ver-me qual sou.
Nem perguntes o que eu fiz
Quando há pouco fui olhar-me
Depois de falar contigo
E em que chorei de saudade!
Quebrei-o porque não quero
Aceitar a realidade!
Não digas, — não vás supor
Que foi uma cobardia,
Ou nervos, ou pessimismo,
Ou uma simples fantasia!...
Não, amor: o nosso drama
— O meu!, tem essa tragédia
Da consciência que eu ponho
Sem querer, sem a chamar,
Para ouvir o que eu digo
E para ver o que eu faço...
Sou o rastro de um sorriso,
Um gesto do teu cansaço...
Sou a música perdida
De um lamento que foi alma
Na letra de uma cantiga
Cantada por um mendigo
Numa estrada solitária
Onde não passa ninguém!
Quebrei-o e fiz muito bem.
Quebrei-o como quem parte
A vida que idealizou:
— Não posso ver-me qual fui,
Não quero ver-me qual sou.
António Botto, Curiosidades Estéticas [1924] poema 24
in Canções e Outros Poemas, Ed. Quasi, 2008