diário de um arquitecto

[proíbido falar de arquitectura]


"Tú no puedes volver atrás porque la vida ya te empuja como un aullido interminable. Te sentirás acorralada te sentirás perdida o sola tal vez querrás no haber nacido. Entonces siempre acuérdate de lo que un día yo escribí pensando en ti como ahora pienso. La vida es bella, ya verás como a pesar de los pesares tendrás amigos, tendrás amor. Un hombre solo, una mujer así tomados, de uno en uno son como polvo, no son nada. Entonces siempre acuérdate de lo que un día yo escribí pensando en ti como ahora pienso. Otros esperan que resistas que les ayude tu alegría tu canción entre sus canciones. Nunca te entregues ni te apartes junto al camino, nunca digas no puedo más y aquí me quedo. Entonces siempre acuérdate de lo que un día yo escribí pensando en ti como ahora pienso. La vida es bella, tú verás como a pesar de los pesares tendrás amor, tendrás amigos. Perdóname no sé decirte nada más pero tú comprende que yo aún estoy en el camino. Y siempre siempre acuérdate de lo que un día yo escribí pensando en ti como ahora pienso."
José Agustín Goytisolo

separação



"O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo. Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces, ao encontro de quem vais e que porventura te esperam: aquele que eles vão conhecer será diferente daquele que eu julguei conhecer e creio amar. Não se possui ninguém [mesmo os que pecam não o conseguem] e, sendo a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não prendê-lo. Gherardo, não te enganes sobre as minha lágrimas: vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los. Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe, enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela. Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo, assim tu também não és mais para mim do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver. Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo. Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos."
Marguerite Yourcenar, in 'O TEMPO – esse grande escultor'


eu tinha um melro...

"Eu tenho um melro
que é um achado.
De dia dorme,
à noite come
e canta o fado.
E, lá no prédio,
ouvem cantar...
E já desconfiam
que escondo alguém
para não mostrar.
Eu tenho um melro,
lá no meu quarto.
Não anda à solta,
porque, se ele voa,
cai sobre os gatos.
Cortei-lhe as asas
para não voar.
E ele faz das penas
lindos poemas
para me embalar.
Melro, melrinho,
e se acaso alguém te agarrar,
diz que não andas sozinho
que és esperado no teu lar.
Melro, melrinho
e se, por acaso, alguém te prender,
não cantes mais o fadinho,
não me queiras ver sofrer.
E não voltes mais,
que estas janelas não as abro nunca mais.
Eu tenho um melro
que é um prodígio.
Não faz a barba,
não faz a cama,
descuida o ninho...
Mas canta o fado
como ninguém.
Até me gabo
que tenho um melro
que ninguém tem.
Eu tenho um melro...
[Que é um homem!]
Não é um homem...
[E quem há-de ser?!]
É das canoras aves
aquela que mais me quer.
[Deve ser homem!]
Ah, pois que não!
[Então mulher...]
Há de lá ser!?
É só um melro
com quem dá gosto adormecer.
Melro, melrinho...[refrão]
E não voltes mais,
que a tua gaiola serve a outros animais."

no more i love yous

un mundo raro...

"Cuando te hablen de amor
Y de ilusiones
Y te ofrezcan un sol
Y un cielo entero
Si te acuerdas de mí
No me menciones
Porque vas a sentir
Amor del bueno
Y si quieren saber
De tu pasado
Es preciso decir una mentira,
Dí que vienes de allá
De un mundo raro,
Que no sabes llorar,
Que no entiendes de amor
Y que nunca has amado.
Porque yo a donde voy,
Hablaré de tu amor
Como un sueño dorado
Y olvidando el rencor
No diré que tu adiós
Me volvio desgraciado.
Y si quieren saber
De mi pasado,E
s preciso decir otra mentira,
Les diré que llegué
De un mundo raro,
Que no sé del dolor,
Que triunfé en el amor
Y que nunca he llorado."

chavela

a noite passada

A noite passada acordei com o teu beijo descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo vinhas numa barca que não vi passar corri pela margem até à beira do mar até que te vi num castelo de areia cantavas "sou gaivota e fui sereia" ri-me de ti "então porque não voas?" e então tu olhaste depois sorriste abriste a janela e voaste. A noite passada fui passear no mar a viola irmã cuidou de me arrastar chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo olhei para baixo dormias lá no fundo faltou-me o pé senti que me afundava por entre as algas teu cabelo boiava a lua cheia escureceu nas águas e então falámos e então dissemos aqui vivemos muitos anos. A noite passada um paredão ruiu pela fresta aberta o meu peito fugiu estavas do outro lado a tricotar janelas vias-me em segredo ao debruçar-te nelas cheguei-me a ti disse baixinho "olá", toquei-te no ombro e a marca ficou lá o sol inteiro caiu entre os montes e então olhaste depois sorriste disseste "ainda bem que voltaste".

flutuo, só p'ra não te ouvir dizer...