diário de um arquitecto

[proíbido falar de arquitectura]


a noite passada

A noite passada acordei com o teu beijo descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo vinhas numa barca que não vi passar corri pela margem até à beira do mar até que te vi num castelo de areia cantavas "sou gaivota e fui sereia" ri-me de ti "então porque não voas?" e então tu olhaste depois sorriste abriste a janela e voaste. A noite passada fui passear no mar a viola irmã cuidou de me arrastar chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo olhei para baixo dormias lá no fundo faltou-me o pé senti que me afundava por entre as algas teu cabelo boiava a lua cheia escureceu nas águas e então falámos e então dissemos aqui vivemos muitos anos. A noite passada um paredão ruiu pela fresta aberta o meu peito fugiu estavas do outro lado a tricotar janelas vias-me em segredo ao debruçar-te nelas cheguei-me a ti disse baixinho "olá", toquei-te no ombro e a marca ficou lá o sol inteiro caiu entre os montes e então olhaste depois sorriste disseste "ainda bem que voltaste".