diário de um arquitecto

[proíbido falar de arquitectura]


no teu poema

No teu poema/Existe um verso em branco e sem medida/Um corpo que respira, um céu aberto/Janela debruçada para a vida./No teu poema/Existe a dor calada lá no fundo/O passo da coragem em casa escura/E aberta uma varanda para o mundo/Existe a noite/O riso e a voz refeita à luz do dia/A festa da Senhora da Agonia e o cansaço/Do corpo que adormece em cama fria/Existe um rio/A sina de quem nasce fraco ou forte/O risco, a raiva, a luta, de quem cai ou que resiste/Que vence ou adormece antes da morte./No teu poema/Existe o grito e o eco da metralha/A dor que sei de cor mas não recito/E os sonos inquietos de quem falha./No teu poema/Existe um cantochão alentejano/A rua e o pregão de uma varina/E um barco assoprado a todo o pano/Existe um rio/O canto em vozes juntas, em vozes certas/Canção de uma só letra e um só destino a embarcar/No cais da nova nau das descobertas/Existe um rio a sina de quem nasce fraco ou forte/O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste/Que vence ou adormece antes da morte./No teu poema/Existe a esperança acesa atrás do muro/Existe tudo o mais que ainda me escapa/E um verso em branco à espera do futuro...